A relação entre a teoria e a prática no ensino de engenharia

Pessoal, nesta semana me deparei com o um texto Sistemas de Informação e Engenharia de Software: Cadê as Escolas? (Silvio Meira)

De antemão, afirmo que o texto é excelente e concordo os vários pontos relatados.

Ao ler o texto você consegue visualizar rapidamente a relação entre teoria e prática no ensino de engenharia. Ao meu ver, esta relação é apresentada, de forma concisa na figura abaixo.

teoriaPrarica

Perceba que a figura mostra que os docentes imersos no sistema de ensino superior brasileiro são extremamente teóricos (quadrante roxo), fato este que não caracterizo como demérito. O problema encontra-se na capacidade de aplicarmos todo aparato teórico de forma prática, possibilitando a conjunção das ações pesquisar e desenvolver – maximizar a agregação de valor e gerar riqueza de forma sólida e consistente (quadrante vermelho).

Nossa missão é transpor o aluno, imerso no quadrante azul, para o quadrante vermelho. Para cumpri-la devemos nos posicionar neste quadrante. Fato este que não ocorre facilmente, pois esbarramos sempre na base legal que rege as universidades públicas, que impede que os professores se insiram na indústria e obtenham algum retorno. Saliento também que o sistema de avaliação CAPES não colabora com a transposição. O referido sistema, caracterizado como “meritocrático”, qualifica de forma ampla aquilo que chamo de publicação de prateleira (ninguém usa, ninguém lê e não gera valor de forma efetiva). Eu mesmo tenho uma série destas publicações – é meu amigo, são as regras do jogo. Outro fato que colabora com a não transposição dos docentes para o quadrante vermelho é o comodismo, conheço diversos professores que se acostumam com este sistema e são avessos a mudanças.

Por fim, os fatos explicitados no parágrafo anterior nos leva ao fluxo 3 da Figura, na qual o aluno é transposto para o quadrante roxo, ou seja, quando formados são mais teórico e menos práticos. Este fato não possibilita a união das ações pesquisar e desenvolver retratada no quadrante vermelho.

Como mudar esta realidade?

José Augusto Fabri – fabri@utfpr.edu.br

A engenharia do como

A engenharia pode ser caracterizada como a arte de aplicar os conhecimentos, advindos das mais variadas áreas de conhecimento, na criação ou aperfeiçoamento de materiais, estruturas, máquinas, aparelhos, sistemas ou processos.

Já a ENGENHARIA DE SOFTWARE pode ser considerada uma área da Ciência da Computação que tem como objetivo a especificação, desenvolvimento e manutenção de sistemas de software. Atualmente, a ENGENHARIA DE SOFTWARE,                também estabelece uma relação estreita com outras áreas do conhecimento, tais como: Gerência de Projetos; Teoria da Qualidade; Gestão de Conhecimento.

Ao analisar ambas as definições é possível perceber que todas tratam o que fazer e não como fazer. Este fato é estendido aos livros, modelos de qualidade, disciplinas, consultorias e cursos ligados  à ENGENHARIA seguem o mesmo raciocínio, relatam o que e não como.

Afirmo isto com legitimidade, pois participo de diversas consultorias e trabalho dentro de um curso de engenharia de software que contrapõe a afirmação apresentada acima. A prova desta contraposição está ligada ao feedback que recebo de vários alunos e clientes (empresas que nos contratam, via Fundação, em consultorias). Estes feedbacks estão armazenados em minha base histórica de projetos, compartilho alguns com vocês.

  • O método de trabalho delineado pela sua equipe para nossa empresa alterou nossa forma de trabalho. Vocês executaram conosco, de forma prática, o método proposto, todos perceberam como fazer para estabelecer métricas de qualidade. A outra consultoria dizia-nos apenas o que fazer”. (feedback obtido após a implantação de um processo em uma empresa).
  • Professor, em sua disciplina sempre você apresenta como trabalhar a engenharia de software, você vai além do campo teórico, sempre embuti a prática em todas as aulas – esta constatação também pode ser estendida a todos os demais professores” (feedback obtido no final de 2014, após ministrar aulas de introdução a engenharia de software, no curso de Bacharelado em Engenharia de Software da Universidade Tecnológica Federal do Paraná).

Todos nós, profissionais que trabalhamos diretamente com as Engenharias, devemos relatar para toda a comunidade, acadêmica e empresarial, como fazer e não somente o que fazer.

O como fazer gera mais positividade, ou seja, a percepção do processo é real e todos entendem passo a passo aquilo o que está sendo construído. Possibilitam os envolvidos a receber um conjunto de conhecimentos mais sólidos.

Importante: O como fazer provê um aprendizado mais rápido e com maior qualidade.

Saia da esfera teórica e atinja a prática, durante a realização de seu trabalho, de suas aulas, de suas consultorias e na concepção de seus livros e materiais – foque mais o como.

Acredito que estamos perdendo este horizonte. As nossas universidades são, em sua grande parte, teóricas. A indústria necessita de pessoas que resolvem problemas de forma rápida e consistente.

Enfim, que tal praticar mais a engenharia do como e menos a engenharia do que?

José Augusto Fabri – fabri@utfpr.edu.br